Quando se trata de aprendizagem e treino de gatos, um dos temas mais discutidos é, sem dúvida, o uso de castigos para corrigir comportamentos felinos indesejados. Embora pareça claro para os cuidadores que os animais devem ser devidamente corrigidos, os especialistas em comportamento felino — apoiados pela ciência mais recente — estão convencidos de que disciplinar os nossos gatos não é assim tão óbvio ou apropriado. No artigo desta semana explicamos o que deverá então fazer!
Embora castigar um gato possa suprimir comportamentos indesejados a curto prazo, muitas vezes causa sentimentos desagradáveis como stresse e ansiedade. Com o tempo, isto também pode desencadear problemas comportamentais a longo e médio prazo — por vezes, até piores do que o comportamento corrigido anteriormente.
Tecnicamente falando, punir um gato significa tentar reduzir um comportamento específico — geralmente o "indesejado" — criando sentimentos "negativos" no gato quando esse comportamento ocorre.
Por exemplo, quando um gato mia repetidamente e recebe água pulverizada na cara, ou quando um gato morde e depois é trancado na casa de banho como castigo, estas consequências visam desencadear um sentimento negativo. Quando um gato aprende a associar os seus comportamentos a estes resultados — como ser pulverizado com água ou fechado na casa de banho —, pode sentir-se inclinado a parar de miar ou morder para evitar sentir-se assim.
Portanto, sim, é possível aprender através da punição. Mas o problema de reagir desta forma quando o seu gato demonstra comportamentos "indesejáveis" é que isso pode levar a efeitos secundários ou reações negativas nele.
Vamos explorar o exemplo de um gato a urinar fora da caixa de areia, no sofá. Quando isto acontece, muitos cuidadores respondem repreendendo ou castigando o gato. Ao fazê-lo, é possível que o gato pare de urinar no sofá devido à má sensação desencadeada pelos cuidadores. A compreensão da associação leva os gatos a concluir que tal comportamento não é uma boa escolha.
No entanto, não podemos esquecer os efeitos secundários causados pela aprendizagem através da punição. Os gatos podem sentir-se tão frustrados com a punição que, quando corrigidos, podem comportar-se de forma agressiva com qualquer pessoa que esteja por perto. Na verdade, estes gatos podem ter tanto medo do castigo que associam os sentimentos negativos não só a urinar no sofá, mas também aos próprios móveis. Como resultado, podem evitar subir para cima dos móveis ou até mesmo entrar na sala de estar.
O medo da pessoa que aplica o castigo também pode desenvolver-se. O gato pode começar a afastar-se dos seus cuidadores, quebrando o vínculo humano-animal de estimação. Isto pode fazer com que os movimentos dos gatos pela casa fiquem restritos, e podem viver num estado constante de preocupação, o que acaba por causar stress crónico.
Ao falar sobre o risco de surgirem problemas graves como resultado da punição dos nossos gatos — também conhecido como treino disciplinar —, vem-me à mente uma experiência que tive há muitos anos.
Quando era criança, frequentava aulas de natação numa piscina muito grande e funda. Numa aula, nós, alunos, éramos colocados numa fila e instruídos para saltar para a piscina, um de cada vez. No entanto, como não sabíamos nadar muito bem — e apesar de todo o esforço da nossa parte — não conseguíamos voltar para a borda da piscina depois de saltar. Por fim, a nossa professora usou um tubo comprido, tipo cano, para nos segurar e levar de volta para a borda.
Ao dar um comando para saltar para a água, o tom de voz da professora era firme e alto. Se não saltássemos, a professora falava ainda mais alto, o que nos deixava ainda mais assustados. Ao cair na água, também sentíamos medo, pois sabíamos que tínhamos de continuar a nadar até que o tubo fosse estendido até nós. Também nos sentíamos constrangidos e envergonhados, pois todos conseguiam ver o nosso desespero.
Aprendi a nadar, mas deixei de frequentar as aulas assim que pude, porque a experiência era muito desagradável. Durante muitos anos, estive longe de piscinas; só o cheiro a cloro dava-me borboletas na barriga, mesmo já sabendo nadar.
Em adulta, demorei vários anos — e também professores diferentes — a recuperar a agradável sensação de nadar. O comportamento desejado — nadar — foi ensinado, mas baseado em sentimentos desagradáveis. Se eu não saltasse para a água, o meu professor gritava comigo. Se não conseguisse lidar com a piscina, afogava-me. Se não nadasse bem, ficaria envergonhada.
E cada um destes sentimentos desagradáveis trouxe as suas próprias consequências negativas: clubes de natação, piscinas e professores que falavam alto e com firmeza tornaram-se uma fonte de medo para mim.
Até hoje, é desagradável recordar essa época, e a culpa disso tem um nome: aprender através do castigo.
Voltando ao meu exemplo de um gato a urinar no sofá, se estas tentativas de urinar forem causadas por dor derivada de uma doença urinária — como uma infeção do trato urinário inferior — o castigo apenas mascara o problema. E, pior ainda, o stresse crónico causado por esta abordagem pode desencadear outros comportamentos, como vómitos e limpeza excessiva. De qualquer forma, mesmo que o sofá seja evitado, o gato pode simplesmente escolher outros locais inadequados para urinar, como camas ou carpetes.
Em suma, simplesmente não vale a pena castigar um gato para corrigir comportamentos felinos indesejáveis. Este método de correção não é simples, nem preciso, nem inofensivo.
Em vez disso, todos devemos reconhecer que a melhor abordagem é focarmo-nos em incentivar e recompensar bons comportamentos — como melhorar as condições da caixa de areia para atender às necessidades e preferências do gato em casos de sujidade na casa.
Ao mesmo tempo, é importante identificar as causas exatas dos comportamentos indesejáveis, fazer alterações no ambiente e utilizar produtos que ajudem os gatos a sentirem-se mais seguros no seu ambiente (por exemplo, FELIWAY Optimum ligado à sua divisão favorita).
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